A maneira de andar como quem busca estrelas pelo chão. A cabeça a dar contra os muros. Em cada olho, o mundo como um punhal - cravado. O pensamento a abrir estradas numa várzea distante. Os ângulos do sonho formando orlas povoadas de fêmeas que a meu encontro viriam do outro lado, em lânguidas posturas. Diante do mar, a sede, a sede de beber a vida em infinitas viagens. As garras de gato ante paredes impostas. A impaciência de que chegue a manhã e a praia, a tarde e o amor. A maneira de andar como a fugir dos homens - e tê-los contra o peito. O pensamento a atirar pedras contra as vidraças que guardam os produtores frios de injustiças. O coração que bate ao som de fábulas. Que bate contra rochedos mortos numa praia de cinza onde palpita o primeiro amor. coração eterno. O amor eterno que bate. A alegria! A alegria! Íntima, espantada de si mesma, gloriosa como palmas a se abrirem aos quatro ventos, a alegria de sentir-me vivo, a alegria de bicho do mato, criança, dominada, eterna. Afonso Félix de Sousa