Há duas pombas brancas no telhado. Junto delas pousa o silêncio do dia já parado, e entre asas caladas o primeiro gesto da noite vai crescendo. É tarde nos telhados e nas árvores, é tarde (triste e mais tarde) nessa rua que se reabriu no fundo de um olhar, onde se movem ressurrectos mármores e começam a discorrer ventos e velas por sobre a limpidez das mesmas águas velhas, e pássaros azuis bicam frutos de astro soltos no ar. Sobem (de onde?) vultos escuros de coisas e de entes, alongam a última distância, somem a luz que se destece e a linha dos caminhos, apagam o verde prado. Não há duas pombas brancas no telhado: sobre elas, seu voo e seu arrulho ausentes a lápide sem cor das horas desce. Abgar Renault