As que passam majestáticas e a gente acompanha com o olhar refém. Aquelas que apesar de entusiasmo e de desvelo só nos dão o seu desdém. As que não são vilãs, nem heroínas, nem escravas, nem rainhas, nem fundamentais; algo mais que a sina feminina ou a maioridade que a elas se negou. Não se diga “é bela esta mulher” porém bonita sua própria condição. Surpreendam sempre como o plenilúnio, o arco-íris, o solstício de verão, Não falte nesse comovido poema uma voz aveludada, uma mecha de cabelo, os opulentos seios das hollywoodianas, as pernas de garça das nordestinas, a imensa tristeza das chinesas de pés pequenos. Dê-se às mulheres o leme do mundo, deixem-nas recuperar o sentido perdido da ternura, apontar um outro rumo, à margem da brutalidade, da carnificina masculina, uma trégua para repensar se vale a pena parir e amamentar mísseis e canhões. Dê-se a elas o sonho do homem e grande e do menino; dê-se às mulheres-mães o direito de intervir no conselho de guerra das nações, o direito de escolha além da irracionalidade viril e da imbecil mutilação dos homens tolos. Que além de toda dor e corrupção cinja-se o corpo da mulher ao corpo do poema, e de ambos não se aparte a beleza suprema. Vão é vosso esmero, estilistas da confecção! Esse corpo de mulher, divino e magistral, só precisa de raio solar, folha de parreira. Mas dê-se a elas bons frascos de perfume, batons variegados, provocantes lingeries, vestidos de organdi. Dê-se a elas inclusive a ilusão de que precisam de séquito, vestais, de algo mais que a generosidade de suas curvas, que a seda de suas peles. Deixem-nas pensar que podem superar a grandeza de sua própria criação. Sejam bem amadas as amantes, orquestrados com cuidado seus suspiros inebriados, os frágeis cristais e os apelos de sua carne insaciada. Sejam os rompantes das mal amadas amparados com carícias em dosséis e o fogo que elas trazem represado arda nos flancos, ao galope dos corcéis. Sejam como as rosas abertas, cintilantes, despudoradas, acesas ou como aquelas fechadas, grávidas de promessas e belezas. Sejam gráceis, redentoras. Sejam salvação. Erorci Santana