Eu não penso, não me queixo, nem discuto, nem durmo. Não desejo nem sol, nem lua, nem mar, nem barco. Não penso no calor que faz entre estas paredes, nem como o jardim está verde; e esse presente, que tanto desejei, já não o espero. Não me anima nem a manhã, nem o eléctrico o seu tilintar alegre, vivo sem ver o dia, esquecendo-me, do tempo, o ano e a hora. Sobre uma corda estragada, eu danço – pobre dançarina. sou a sombra de uma sombra. Sou lunar de duas sombrias luas. Marina Tsvétaïeva, trad. António Mega Ferreira