(gentileza de Amélia Pais) Feliz, quem sabe, o vento. Sem memória, beijando-me nos lábios, ele abraça o meu destino às cegas na paisagem. É sempre nesse instante que regresso à poalha do céu onde começa talvez a maldição, talvez o encanto de invocar-te em silêncio. Porque, eu sei, entre palavras morre a cor dos sonhos, o vão pressentimento de estar vivo. Feliz talvez o vento e no entanto, arrasta ainda areia e vagas vozes na praia ao abandono. A luz da tarde encobriu-se de névoa, só o mar ficou perto de mim – agora é simples: as ondas trazem novo o teu sorriso, movem o seu abismo nos meus olhos, mas lágrimas nenhumas vão salvar-me o corpo, a alma, as cinzas, esta vida. Fernando Pinto do Amaral