(gentileza de Amélia Pais) aqueles corações honestos corta-se pelo frio não têm o beneplácito do sol nem a solução da ferocidade da lua e moram em corpos tristíssimos peões incapazes de saltarem para o cavalo que os levasse à torre. moram em mentes de artistas da rua da amargura em filhos únicos que morrerão sem descendência em poetas que não têm Shelley como advogado e que a idade começa a pesar no de outrora ouro esbanjado. a honestidade da impenetrável neve a descer num balão de ar frio sobre o quatro de rapariga com a decoração da adolescência o urso em cima do guarda-roupa a secretária com os dicionários aquele lugar que a torna inabitante incapaz de adequar um corpo que cresceu com formas e sem forma de ser de novo expelido. a beleza do cheiro que há nas flores que há no recôndito calor do corpo às sombras consigo a acumular o pó que seria só dos móveis aquele corpo deitado como se pousasse para Matisse num fim de tarde e meticulosamente retirasse o coração e o pusesse na cabeceira alegando o descanso cinco minutos só que a acordasse no fim do quadro ou no fim da vida cinco minutos só de absoluta nudez. Ana Salomé