Estou perdido entre uma sombra e uma amendoeira, mas estar perdido não significa não conhecer a beleza do que passa no instante em que passas ou estar mais próximo da desolação neste vestígio antiquíssimo da desolação. A sombra de que falo vem de um lugar onde o coração está próximo, de um lugar onde a inocência pulsa ainda sob a terra, de um lugar onde os lábios pronunciam a subtileza de um nome com o teu nome. Porque tu és essa ave que o vento reconhece e agita o coração, a árvore branca e poderosa a que os pássaros regressam, a árvore que cintila na escuridão e pelo subtil estremecimento da noite é o último refúgio de quem se encontra perdido entre a sombra de uma amendoeira com o teu nome, algures no mundo, neste vestígio antiquíssimo da desolação. Amadeu Baptista