Não tenho mais visões, não tenho obsessões, sigo a trompete apenas, a ternura é esse outro lado das coisas em que me perco porque nada mais me chama e nada mais revejo no lentíssimo torpor que pelas veias senti outrora num azul imenso que mais do que tocar-me me esvaía no inferno do mundo e em seus ramais de pura nostalgia, tristeza e desencanto. Só ergo agora a voz para esquecer e ter o olhar toldado para as coisas que como grito lancinante escuto no silêncio enquanto outras vozes me chamam, outros indícios me vêm perturbar quando pressinto a noite antíquissima em que se esconde o sobressalto da serenidade do meu tempo. Nem já a sombra aguardo ou o sentido destes brilhos espessos, estas chamas que consomem o meu corpo e a minha alma no mistério de tudo e no liminar enigma que adensa nos outros os sentidos, certa atenção venal, um desespero que em fumos e rastros me pergunta por esta vida que já não é minha e no coração recebo como salvação e ruína. Sigo a trompete, o subtil sinal da despedida. Só ergo agora a voz para esquecer. Amadeu Baptista