Não há idade, Apenas um rio voluptuoso, Correndo para trás. Em suas águas mornas Ruas antigas deságuam Com casas, rostos e melodias Que, no retorno ao tempo, Se redescobrem. Nas margens do rio, Um velho cinema exibe Um filme sem atores. As cadeiras estão vazias, Somente a frisa vive, Como, se medrosas mãos adolescentes, Se encontrassem na treva, Formando molduras douradas. Na torrente que regressa O pátio do colégio insula-se Há frio e solidão Na merenda infantil. Além, uma bola bate nos vidros do dia, E um trem regressa Com cafezais florindo na fumaça. Das águas que correm como sangue, Surge uma casa, e um realejo toca, E os retratos voltam a viver, A falar como avós, A ter os cabelos brancos despenteados Pelo vento que sopra com mãos de brinquedo. Depois, Os lampiões vão-se acendendo E, em calçadas bruxuleantes, Os heróis regressam Com rosas rubras no capacete E lírios nascendo no caule dos fuzis. E o rio caminha Para trás; Em seu leito Bolas de vidro colorido Rolam como seixos; O menino tacteia-se na noite, Sente a febre que molda o rosto, E mergulha no tempo Para sempre! Paulo Bomfim