A circunstância de sermos homem e mulher presos por uma aliança tácita e secreta do sangue é que nos prende à vida, meu amor, e nos salva. Nascemos sem passaporte, entre fronteiras guardadas por sentinelas de sal e de silêncio. O rio da história corre, estrangulado, entre as pedras, e o cascalho, e os detritos humanos, e a alegria suicida das coisas limpas e puras abandonadas e soltas à vertigem da morte. Construímos para nossa defesa um muro de ironia e de sarcasmo – imponderável cortina de humana ternura envergonhada ou, como tu dizes, perseguida. O silêncio é a corda que nos prende aos mastros, a antena vegetal por onde a vida se insinua, universal e atenta. Marinheiros duma pátria ancorada no tempo, bebemos o sal dos minutos que passam e adormecemos, hirtos, de costas para o mar. Albano Martins