Quem suspeitar do amor Com filiformes sedas E veias incorruptas E prolongadas fontes, Quem suspeitar da luz Na doce obscuridade Informe a autoridade. Quem suspeitar da fome À mesa reluzente. Quem suspeitar da Cruz Entre a família ausente. Quem suspeitar da sede Por dentro da amizade Informe a autoridade. Quem suspeitar que há laços De bíblicas imagens. Lázaro ao nosso lado. Novas ressurreições. E Cristo no pecado E romanas miragens Nos circos, nos algozes, Coroados de louros. Quem suspeitar da esperança, No átrio da memória Da imensa liberdade Que o suicídio evade, Informe a autoridade. E o mais suspeito vem Bater à noite morta. Traz nos dedos de garras Sangrando, um coração. Gota a gota, nos lábios O futuro da Vida, Canta no espaço humano A enorme transfusão. Na eterna leucemia Do renovado dia Apavora o suspeito A paz do hospital. Branco, branco o elemento Que embala o pensamento. - Mas sonho sonolento. Mas subtil caridade - Ao vampiro do Tempo Impõe a edilidade Que o conselho dos velhos Informe a autoridade... A multidão das sombras As hostes das visões Computadores cruéis Mais os homens robots Instalaram nos lares Ouvidos e espiões. Em corações de corda Em frios corações Deitaram a paixão. - Trituram as paixões. Mas o massacre aguarda As ordens implacáveis. Quem suspeitar do amor Em filiformes sedas. Quem suspeitar da sede Por dentro da amizade. Quem suspeitar da esperança No átrio da memória, Da imensa liberdade Que o suicídio evade, Quem suspeitar de Cristo Em sóis quotidianos No peito lacerado Aberto ao companheiro, E quem quiser dizer O que dizer não há-de, Avise a autoridade. Natércia Freire