(gentileza de Amélia Pais) Vincent Van Gogh, hortelão irreal do Meio-dia. Tu pintavas a chama tubular das gramíneas. E pintavas vinhedos, da margem nítida do vinho. Cerejeiras devoradas pelas mil bocas de suas próprias flores e lugares de Abril, com um sereno voo de ametistas vindas de um confim de ídolos unânimes. Pintavas a cor que gira no côncavo absoluto do espaço — astro contínuo nos seguintes sóis — e eternos sóis giradores, sobre teus girassóis. O trigo encabritado nas colinas. Um poente com seu anjo levadiço que até hoje divide, com seu passo, o rio. Vincent Van Gogh, pintor da celeste idolatria. Tu pintavas o céu, como um Deus fugitivo. O céu em remoinhos de idêntica safira. O ritmo circular de seus abismos. Os astros que Deus abre com seu indicador. O céu que nos dói nas pupilas ao sabermo-nos escravos da hidra. Céus, onde, com uma lágrima, habitas. César Dávila Andrade, trad. Paulo Rato