Maio na Provença
Quando os dias são longos em Maio
é-me doce o canto dos pássaros de longe,
e quando me parti de lá
relembra-me um amor de longe;
vou, de desejo, curvado e triste
tal que nem cantos nem flores de branco-
[espinho
me agradam mais que o inverno gelado.
Bem tenho o Senhor por verdadeiro,
que criou este amor de longe,
mas por um bem que me acontece,
tenho dois males, pois me está longe.
Ai! assim fosse eu lá peregrino
para o que meu bordão e o meu manto
fossem dos seus belos olhos contemplados.
Alegria será quando lhe pedir,
por amor de Deus, o albergue de longe;
e se lhe agradar, albergarei
junto a seu lado, se bem sou de longe;
que assim é a conversa perfeita,
quando o amante longínquo é tão vizinho
que com espírito cortês goza prazer.
Irado e dolente me partirei
se não o vejo, este amor de longe;
e não sei quando a verei
de tal modo são as nossas terras longe:
assaz há passos e caminhos;
e por isso não sou adivinho…
mas tudo seja como a ela apraz.
Jamais amor não desfrutarei
se não disfrutar este amor de longe,
pois melhor nem mais gentil não sei
em nenhum lugar, nem perto nem longe;
tanto o seu mérito é grande e elevado
que lá no reino dos Sarracenos
fosse eu por ela cativo proclamado.
Deus, que fez tudo o que vem e vai,
e criou este amor de longe,
me dê o poder – que ânimo já terei,
de ver este amor de longe,
verdadeiramente, em lugar propício,
tal que a câmara e os jardins
me parecerão novos palácios.
Verdade diz quem me chama ávido
e desejoso de amor de longe;
pois nenhumas alegrias me agradam mais
que os prazeres de amor de longe;
mas o que eu quero me é tão vedado:
que assim me fadou o meu padrinho
que eu amasse e não fosse amado.
Mas o que eu quero me é vedado:
maldito seja para sempre o padrinho
que me fadou que eu não fosse amado!
Jaufre Rudel, trad. Graça Videira Lopes
Publicado em 6 de Maio de 2010