Quando os dias são longos em Maio é-me doce o canto dos pássaros de longe, e quando me parti de lá relembra-me um amor de longe; vou, de desejo, curvado e triste tal que nem cantos nem flores de branco- [espinho me agradam mais que o inverno gelado. Bem tenho o Senhor por verdadeiro, que criou este amor de longe, mas por um bem que me acontece, tenho dois males, pois me está longe. Ai! assim fosse eu lá peregrino para o que meu bordão e o meu manto fossem dos seus belos olhos contemplados. Alegria será quando lhe pedir, por amor de Deus, o albergue de longe; e se lhe agradar, albergarei junto a seu lado, se bem sou de longe; que assim é a conversa perfeita, quando o amante longínquo é tão vizinho que com espírito cortês goza prazer. Irado e dolente me partirei se não o vejo, este amor de longe; e não sei quando a verei de tal modo são as nossas terras longe: assaz há passos e caminhos; e por isso não sou adivinho… mas tudo seja como a ela apraz. Jamais amor não desfrutarei se não disfrutar este amor de longe, pois melhor nem mais gentil não sei em nenhum lugar, nem perto nem longe; tanto o seu mérito é grande e elevado que lá no reino dos Sarracenos fosse eu por ela cativo proclamado. Deus, que fez tudo o que vem e vai, e criou este amor de longe, me dê o poder – que ânimo já terei, de ver este amor de longe, verdadeiramente, em lugar propício, tal que a câmara e os jardins me parecerão novos palácios. Verdade diz quem me chama ávido e desejoso de amor de longe; pois nenhumas alegrias me agradam mais que os prazeres de amor de longe; mas o que eu quero me é tão vedado: que assim me fadou o meu padrinho que eu amasse e não fosse amado. Mas o que eu quero me é vedado: maldito seja para sempre o padrinho que me fadou que eu não fosse amado! Jaufre Rudel, trad. Graça Videira Lopes