Pergunto-me como te vais sentir quando descobrires que fui eu que escrevi isto em vez de ti, que fui eu que me levantei cedo para me sentar na cozinha e mencionar com uma caneta as janelas ensopadas pela chuva, o papel de parede com heras, o peixe-dourado circulando no aquário. Vá lá, dá a volta, morde o lábio e arranca a página, mas, escuta - era só uma questão de tempo até que um de nós casualmente reparasse nas velas apagadas no relógio murmurando na parede. Para além disso, nada ocorreu nessa manhã – uma canção na rádio, um carro assobiando na estrada lá fora – e eu simplesmente pensando no saleiro e no pimenteiro colocados lado a lado num mantel individual. Perguntei-me se se haviam feito amigos depois de todos estes anos ou se ainda eram estranhos um para o outro como tu e eu que conseguimos ser conhecidos e desconhecidos um para o outro ao mesmo tempo – eu a esta mesa com uma fruteira de pêras, tu encostado algures na entrada de uma casa junto a umas hortênsias azuis lendo isto. Billy Collins, trad. João Luís Barreto Guimarães