Soneto a Helena
Quando velhinha, à noite, ao lume da candeia,
Sentada ao pé do fogo, escutando e fiando,
Direis, meus versos lendo e vos maravilhando:
Celebrou-me Ronsard quando não era feia.
Serva não haverá, que ouvindo vossa ideia,
Cansada do trabalho e já cabeceando,
Desse meu nome, ao som, não se erga despertando,
Vosso nome a abençoar, de louvor toda cheia.
Eu serei sob a terra e, fantasma ocioso,
Sob os mirtos, à sombra, hei-de ter meu repouso:
Sereis uma velhinha, à lareira, encolhida.
A chorar meu amor e vossa altivez vã.
Acreditai, viveu em esperar por amanhã:
Colhei, a partir de hoje, as rosas desta vida.
Pierre de Ronsard, trad. A. Herculano de Carvalho
Publicado em 15 de Outubro de 2010