Este poema começa com um homem de tronco nu à sua mesa de trabalho e hiante a esta hora em que de oriente a ocidente se acendem lâmpadas trémulas e bárbaras e ferozes e o mar é o teu nome a esta hora pétala a pétala em que subirei de avião para ir beijar-te os olhos e ver no meio do deserto o único o magnífico devorador de rosas a comer um pão enquanto do Oceano resta apenas o silêncio de uma lágrima caindo nos joelhos de uma criança Espera-me onde um nome há no Ar escrito com saliva azul com raiva azul como a urina violenta dos amantes com a sua flor azul à superfície onde crepita a morte Choverá muito eu sei choverá muito e não porei uma pedra branca sobre o assunto digo sobre o tremor de terra em que tu danças na tua roda de cigarros cada vez mais depressa cada vez mais depressa e lento o peixe de plumas de águia letra a letra dá a volta ao mundo dos teus olhos enquanto a dentadura cintilante pronuncia o grande uivo de oriente a ocidente Certas palavras muito duras quando a noite cai não devem ter outra origem sabem tão bem quanto eu porque agora a lava das lágrimas ao crepúsculo são as rosas com que o poeta fala à multidão em volta do crocodilo o animal repugnante de costas para a luz contra o grande uivo: de oriente a ocidente a mesma flor podre o estado os segredos de estado as razões de estado a segurança do estado o terrorismo de estado os crimes contra o estado e o equilíbrio do terror de oriente a ocidente meu amor de oriente a ocidente Digo nãoEu digo não digo o teu nome que diz não No entanto às portas da cidade e ao pé de cada árvore à espera que tu chegues ou passes simplesmente estão os grandes do império com o chapéu na mão para cumprimentar-te Então passas tu com a lua no peito dividindo distribuindo os alimentos passas tu devagar atirando as moedas que os dias não aceitam e gastamos depressa noite mil e uma noites de quem espera Meu amor países pátrias têm todos um nome de letras imundas que não é para escrever Se ainda podes ouvir o búzio da infância ouvirás com certeza o sinal de partir No comboio multicor sobre carris ferozes e azuis que há mil anos dá a volta ao mundo sou eu o homem que viaja nu porque eu sou o arco-íris e a rosa no trapézio e tu toda a paisagem que atravesso como se fosse de bicicleta como se fosse sílaba a sílaba a primeira frase da terra tu com as tuas luvas de amianto ao lado do vulcão com a tua máscara de olhar a aurora boreal de me olhares para sempre nua eu a tempestade de coração a coração Roda sórdida da razão cínica e canto de galos depenados vivos que cantam nos intervalos da morte no meu livro de horas deste século está escrito que o homem livre fará o seu aparecimento sob a forma de um cometa de cauda fascinante que arrastará os amorosos até ao centro do mundo donde partirão na rosa-dos-ventos e este será o sinal António José Forte