(gentileza de Amélia Pais) Digamos no final deste sábado que a novidade foi nada se ter passado, que tudo cada vez se volve mais eterno, profundamente chato e sem contornos, e que não é possível um pássaro de fogo entrar-me no escritório, vulgo biblioteca. Sei tão bem as cidades por onde caminhei que bocejo somente em pensar ir até ao aeroporto. Todas essas cidades se resumem à estrada que vai por aqui não me interessa aonde. Mesmo a rapariga que achei bela, a semana passada desfeou-se e as árvores, porque é Outono, perderam todo o brilho que tiveram, e nada disto é digno de citar-se. Portanto regressemos ao princípio. Nada sucede, e o meu coração lança a crédito outro dia que jamais poderei reaver. E quantos dias assim hão-de somar-se em anos idos? Oxalá não me ponha a fazer contas a esse tempo que vou perdendo nem escute o comboio em que, miúdo, pensei fugir de casa para sempre. Nuno Dempster