À tua saúde: levanto o braço e bebo. Onde estarás ó rapariga que vieste visitar-me algumas vezes no verão passado? Como tudo se vai transformando em outra coisa. Como falarei de mim num tempo que há-de vir? Estarei pobre de quê e há-de faltar-me quem? Terei aprendido a privar-me de mais alguma coisa)? Quem sabe se não serei apenas mais feliz. As páginas brancas de livros que talvez sejam meus e se não forem há-de ter pouca importância. hei-de escrever cartas se não escrever romances. E terei em que pensar aconteça o que acontecer. De todas as voltas que o mundo pode dar nenhuma que me ponha a cabeça no chão e os pés no ar. Sou eu que me o permito às vezes para divertir-me e fazer circular o sangue nas veias mais cimeiras. Entretanto que dizer? Não chove nem há sol, não é um dia particular nem um mês de férias. Estar aqui à espera é apenas estar aqui e esperar. rapariga que hei-de voltar a ver levanto o copo e é à tua saúde que entorno o vinho dentro. Quero ir contigo e ver os teus olhos contentes E um dia talvez hei-de explicar-te o que se sente. Por ora digo: bolas! E que estás longe. E que chatice. E que nunca mais decido. Mas que importa o que tu fazes e o que eu digo: Tu estás aí e eu aqui, é longe e é difícil. Há tantas maneiras de passar o tempo. E entretanto a vida continua e eu digo adeus, levanto o braço de novo e vou agitando o lenço. João Camilo