Não sei como exatamente Mas terá o meu semblante, Eu que sou todos os mundos Com cada um de seus instantes. Vou separá-lo do resto E isolá-lo entre meus braços; Quero adotar os seus gestos Antes que seja o que será. Já posso vê-lo à janela De uma casa que ainda não há. Tateio-o, toco-o com os dedos, Dou-lhe forma sem querer, Dou-o a mim, tiro-o de mim, Pois tenho pressa de o ver! Observo-o tanto, retardo-o Por melhor o conceber! Às vezes, informe, saltas, Te afastas e entras na noite Ou, crescido, tu me escalas E te tornas um gigante. Eu que a todo olhar me finto Quero-te ao longe visível, Eu que sou silêncio infindo Te ensinarei a palavra, Eu que não posso pousar Quero-te firme sobre os pés, Eu que estou em toda parte Quero-te num só lugar, Eu que estou em minha lenda Sozinho como um cordeiro Perdido na mata horrenda, Eu que não como nem bebo Quero-te à mesa assentado Com tua esposa ao teu lado, Eu que sou supremo sempre E desconheço o cansaço, Eu que de mim nada faço, Pois que não posso terminar - Quero que sejas perecível, Serás mortal, meu menino, E eu te embalarei no berço Da terra, onde árvores cresçam. Jules Supervielle, trad. Renato Suttana