Era uma vez um rapaz que andava assustado quem não o conhecia pensava ora ali vai um tipo calmo mas não era bem o caso afinal o rapaz andava a sentir-se ultimamente demasiado órfão e o tamanho dos seus olhos diminuía, diminuía, diminuía pois mais que serem janelas os seus olhos se iam habituando à falta de luz e as pestanas eram meras persianas mais que janelas os seus olhos eram diques barragens e barreiras andava o rapaz tão embrenhado no seu assustamento que pouca atenção dava ao que à sua volta se passava o rapaz andava perdido perdido o rapaz andava perdido o rapaz não andava à procura o rapaz andava perdido não sabia o rapaz de tão baralhado que andava que há muitas formas de ter saudade que nem todas se conformam com mapas com fronteiras nem todas se sossegam na contabilização das perdas no apuramento de culpas e de inocências que a saudade não cabe numa cesta ou numa conversa não cabe sequer num segredo ou numa adivinha a saudade é algo que não precisa de ser explicado de razão para aparecer ou ir embora mas disso nada sabia este rapaz como não sabia que a saudade não precisa para ser inteira de ter peso forma ou volume a saudade é saudade de qualquer maneira e metia-se o rapaz em trabalhos à procura das gavetas dos frascos onde pudesse arrumar tudo aquilo que o perturbava a dor do que tinha a dor do que lhe faltava não sabia o rapaz que a saudade pode ser acrescento e continuar a não ter tamanho pode aparecer hoje com força e depois ir dar uma volta como se fosse passear ao parque não precisava o rapaz de estar parado mas isso só veio a saber depois para que as memórias o encontrassem não haveria o rapaz de andar apardalado - pudera é que é no trilho dessas saudades dessas memórias que se escrevem os melhores dos nossos passos os passos que por não terem tamanho estão à altura dos nossos sonhos Rui A.