Levanta-te e deixa-me entrar, diria se pudesse, junto a esta cama onde a dor te contempla, sob este tecto frio que não inventa qualquer paisagem, qualquer lembrança de barcos ancorados no vazio da nossa alma, diria que lá fora escuto a sirene que se aproxima e a chuva que bate com as suas gotas de angústia na pedras da estrada, diria que essas quatro rodas vão levar-te,ao longo do pânico e da noite, para outras paredes onde nenhum crucifixo redime a desolação das casas, diria que se afastaram para sempre os dias antigos, as suas laranjas,a sua água, uma cerejeira breve onde os melros cantavam. José Agostinho Baptista