Sou eu poeta? Às vezes, penso e digo, Não sou poeta, não. Não sou poeta porque não consigo Vencer o que em mim há de imperfeição. Sou eu poeta? E muitas vezes penso E sinto que o não sou. Ser poeta é ter um voo mais extenso, É ter um outro voo. Sou eu poeta? Às vezes isso mesmo Me custa acreditar. Que ser poeta é amar a vida inteira, a esmo, E infelizmente eu não a posso amar. Sou eu poeta? Um vento de sol-posto Passa junto a mim, numa vertigem. E como o vento eu sofro de um desgosto De que não sei nem saberei a origem. Mas ser poeta é qualquer coisa mais. É ter sublimes adivinhações. É ser, tal como são os imortais, Da estirpe de Camões. Alfredo Brochado