Quebrada a vara, fechei o livro e não será por incúria ou descuido que algumas páginas se reabram e os mesmos fantasmas me visitem. Fechei o livro, Senhor, fechei-o, mas os mortos e a sua memória, os vivos e sua presença podem mais que o álcool de todos os esquecimentos. Abjurado, recusei-o e cumpro, na gangrena do corpo que me coube, em lugar que lhe não compete, o dia a dia de um destino tolerado. Na raça de estranhos em que mudei, é entre estranhos da mesma raça que, dissimulado e obediente, o sofro. Aventureiro, ou não, servidor apenas de qualquer missão remota ao sol poente, em amanuense me tornei do horizonte severo e restrito que me não pertence, lavrador vergado sobre solo alheio onde não cai, nem vinga, desmobilizada, a sombra elíptica do guerreiro. Fechei o livro, calei todas as vozes, contas de longe cobradas em nada. Fale, somente, o silêncio que lhes sucede. Rui Knopfli