O Sono de Percival O justo é injusto, o injusto justo é. Débil julguei ouvir tua voz a desoras. Um lamento lento, por certo a voz do vento. Secarei, talvez como o feno, não dormindo, nem noites, nem dias. Soluço abafado, sussurro apenas perceptível após a brancura obliterante do relâmpago, quando cessa o fragor que o excede e a chuva cai e tudo se cala, terei ouvido tua voz. Secarei, talvez, como o feno. O justo é injusto, o injusto justo é. Procurei no horto e no deserto, sob o cavo ruído das torrentes subterrâneas, na imemorial pedra circular com que o humano terror balizou os horizontes do tempo. No espectro da rosa dos ventos, no vento espectral da rosa. Seria a voz do vento, pintura da minha imaginação doente, a vigília do sono, a febre dos sentidos, não dormindo noites e dias para ouvir tua voz. O justo é injusto, o injusto justo é para ouvir tua voz. Secarei como o feno. Para ouvir tua voz. Rui Knopfli