Espera
(gentileza de Amélia Pais)
Espera por mim, que eu voltarei,
Mas tens de esperar muito
Espera quando a chuva amarela
Tristeza trouxer,
Espera quando a neve vier,
Espera quando fizer calor,
Espera quando os outros não esperarem,
Esquecidos do passado.
Espera, quando dos países distantes
Cartas não chegarem,
Espera, quando até se cansarem
Aqueles que juntos esperam.
Espera por mim, que eu voltarei,
Não perdoes àqueles
Que encontram palavras para dizer
Que é tempo de esquecer.
E se crêem, filho e mãe,
Que já não vivo,
Se os meus amigos, cansados de esperar,
Se sentam à lareira
E bebem vinho amargo
Para me recordarem…
Espera. E com eles
Não te apresses a beber.
Espera por mim, que eu voltarei
A despeito da morte.
Quem não me esperou,
Que diga: ‘Teve sorte!’
Não compreendem os que não esperavam
Como no meio do fogo
A tua espera
Me salvou.
Como sobrevivi, saberemos
Só tu e eu, -
É porque me soubeste esperar
Como ninguém mais.
Konstantin Simonov, trad. Manuel de Seabra
Publicado em 20 de Julho de 2011