Ter saudade é vaga disforme de um corpo. Ter saudade é pássaro que aparece e se apaga erguido de confusão na angústia, teste dado à natureza bruxuleante dentro de mim. Ter saudade é fingir qualquer coisa que inquieta, levantada, desenterrada do crivo da memória. Por vezes quando o tempo por ela passa não passa o tempo da saudade, estátua rígida dum destino anoitecido, passa um nada meio acontecido. Saudade, é filha da alma do mundo que de tanto ser outro sou eu já. Saudade, porque viajas cansada em horas dentro de mim? Saudade que vieste até à última força desta linha, brumosa da eterna caminhada. Sempre que vieres sem avisares leva-me contigo para que a paz volte à memória de meu corpo como o rio que passa no tempo final da minha natureza. Carlos Melo Santos