Ainda
Amei. É incompreensível como o tremor das árvores.
Agora estou extraviado na luz porém sei que amei.
Eu vivia num ser e seu sangue deslizava pelas minhas veias e
a música me envolvia e eu mesmo era música.
Agora,
quem está cego nos meus olhos?
Umas mãos passavam sobre meu rosto e envelheciam docemente.
Que foi existir entre cordas e espíritos?
Quem fui nos braços da minha mãe, quem fui no meu próprio coração?
É estranho:
somente aprendi a desconhecer e esquecer.
É estranho:
agora, o amor
habita no esquecimento.
Antonio Gamoneda, trad. António Cícero
Publicado em 28 de Agosto de 2011