(gentileza de Amélia Pais) Uma mulher a fazer compota em julho revela-se resignada a viver com o marido. Não vai fugir às escondidas com o amante. Se assim não fosse, de que serviria cozer fruta com açúcar? E vejam como ela o faz de boa vontade, como um trabalho feito com amor, mesmo que o espaço tenha um valor excessivo e não haja sítio para armazenar os boiões. Uma mulher a fazer compota em julho está a preparar-se para ficar por aqui durante uns tempos. Pretende aquartelar-se e hibernar para atravessar os desconfortos do inverno. Se assim não fosse, por que razão - e, notem, sem que haja nisso qualquer dever - gastaria ela o verão tão breve a limpar restos de compota. Uma mulher a fazer compota em julho no meio do caos de uma cozinha cheia de vapor não se está a preparar para fugir para o Ocidente ou para comprar um bilhete para os EUA. Essa mulher há-de escapar aos desmoronamentos da neve salva pelo sabor da fruta. Na Rússia quem faz compotas sabe que não há saída. Inna Kabish, trad.Luís Parrado