As acácias já se incendiaram de vermelho e o zumbido das cigarras enxameia obsidiante a manhã de Dezembro. A terra exala, em haustos longos, o aguaceiro da madrugada. Ao longe, no extremo distante da caixa de areia, o monhé das cobras enrola a esteira e leva o cesto à cabeça, cumprido o papel exacto que lhe coube e executou com paciente sageza hindu. Dura um instante no trémulo contraluz do lume a que se acolhe, antes da sombra derradeira. Assim, os comparsas convocados para esta comédia a abandonam, verso a verso, consignando-a ao olvido e à erva daninha que, persistente, a cobrirá irremediavelmente. O encenador faz a vénia da praxe e, porque aplausos lhe não são devidos, esgueira-se pelo anonimato da esquerda alta. É Dezembro a encurtar o tempo, o pouco que nos sobra. Rui Knopfli