Outono em Cigulda
Salto para a plataforma do comboio
e digo adeus.
Adeus, Verão.
Mas já sinto saudades
Da datcha onde o martelo soa.
Fecham a minha casa de madeira.
Adeus.
As árvores perderam já as folhas
E agora, nuas e tristes,
São como um acordeão
sem música.
E nós, nós
também somos estranhos,
partimos,
como se fosse assim determinado,
do ergo,
das mães
e das mulheres,
assim tem sido sempre assim será.
Adeus, Mãe,
começasa ficar já transparente
à janela, como num casulo.
O dia extenuou-te, certamente,
e só nos resta descansar.
Amigos e inimigos, good-bye!
Em breve, quando soar o silvo do comboio
vocês, aí, vão ficando para trás
e eu vou-me afastando de vocês.
Despeço-me da terra.
Serei talvez estrela ou salgueiro branco,
mas não irei chorar, não sou nenhum pedinte.
E agradeço à vida que passou.
Nos campos de combate,
tentei matar, poupando as munições,
mas não fui capaz
e pela terceira vez digo obrigado,
porque entre as pás transparentes a vista penetrava
como um punho de sangue
em luvas de borracha.
Andrei Voznessensky
Publicado em 9 de Novembro de 2011