Se eu voltar a lamber as botas do passado, se eu voltar a chorar a memória da memória: que me seque a mão direita! Quando o teu calor vier pelo vento tardio deste verão tão puro e corromper o meu tato; e o roçar da tua nuca me fizer tremer, se eu assobiar a tua mínima canção, se eu procurar a tua boca e o ruído das tuas ruas estrangular o meu coração: que me cole a língua ao paladar! Ó devastadora filha de Babel, feliz quem devolver a ti o mal que me fizeste! Não pedirei mais perdão às virtudes do passado. Repetirei, em desassombro — se eu me lembrar de ti, Jerusalém —, com os que diziam: “Arrasai-a! Arrasai-a até os alicerces!” José Almino