Esperando uma justa recompensa vamos entrando nos anos. Mais valia apascentarmos ovelhas e, se chovesse, abrigarmo-nos debaixo de uma árvore frondosa para escutarmos, como bons cordeiros, em paz e sossego, as reprimendas de Deus. Ou ir ao bosque abater árvores de modo a que o nosso corpo laborioso se adaptasse, a pouco e pouco, como um machado, ao ritmo dos golpes no tronco. Abrir um buraco, pelo menos, na solidão. Já ninguém escreve ao coronel. Um farsante sobe à cena e faz girar os olhos e a poeira é removida. Louvado seja até aos céus. Mas ao cair da noite todas as partículas dessa poeira hão-de voltar a cobrir, imóveis, o solo. Assim, quando de súbito começarem a soprar ventos mais quentes apanhar-nos-ão desprevenidos e não saberemos recordar em que ângulo exacto deveríamos desfraldar as velas das nossas camisas. Jüri Talvet, versão de Luís Parrado