Rubricavam os decretos, as folhas tristes sobre a mesa dos seus poderes efémeros. Queriam ser reis, czares, tantas coisas, e rodeavam-se de pequenos corvos, palradores e reverentes, dos que repetem: és grande, ninguém te iguala, ninguém. Repartiam entre si os tesouros e as dádivas, murmurando forjadas confidências, não amando ninguém, nada respeitando. Encantavam-se com o eco liquefeito das suas vozes comandando, decretando. Banqueteavam-se com a pequenez de tudo quanto julgavam ser grande, com os quadros, com o fulgor novo-rico das vénias e dos protocolos. Vinha a morte e mostrava-lhes como tudo é fugaz quando, humanamente, se está de passagem, corpo em trânsito para lado nenhum. Acabaram sempre a chorar sobre a miséria dos seus títulos afundados na terra lamacenta. José Jorge Letria