Convoco os duendes da inquietação e da alegria, urdindo um laborioso rito circular, delicada teia iridiscente de que, relutante, a luz se vá pouco a pouco enamorando. Palavras não as profiro sem que antes as tenha encantado de vagarosa ternura; mal esboçados, gestos ou afagos, apenas me afloram a hesitante extremidade dos dedos que, aquáticos e transidos, estacam no limiar surpreso do seu rosto. Movimentos longos da tarde e sussurros graves da noite que tendessem para a imobilidade e o silêncio, não seriam mais cautos e aéreos. Quietas estátuas de cristal, intensamente nos fitamos, enquanto trémula, lenta e comburente, a luz mais pura nos atravessa. Rui Knopfli