No vasto Inverno
Por tanta vida que transporto no meu sangue
vacilo
no vasto Inverno.
E de repente,
como por uma fonte que se solta
na estepe,
uma ferida que no sonho
se reabre,
nascem pensamentos
no desértico castelo da noite.
Criatura de fábulas, pelas mudas
habitações onde se consomem as lâmpadas
esquecidas,
transcorre leve uma palavra branca:
voam pombas desde a açoteia
como numa paisagem marítima.
Bondade, regressas a mim:
desfaz-se o Inverno no desbordamento
do meu sangue mais puro,
o pranto ainda pode ser docemente nomeado perdão.
Antonia Pozzi, trad.Henrique Fialho
Publicado em 20 de Março de 2012