A Sombra
Há anos do passado que são como
uma frase riscada, anos que doem
de uma forma imprecisa, pois seu dano
não deixou cicatriz mas sim vazio,
uma sombra inexacta, tão extensa,
que surge para mais além da memória.
Mas talvez esses anos e esse vão,
diferente do olvido, são matéria
de cinza dispersada, tempo quebrado
que não pôde cumprir-se a não ser como
a total negação do que nós amávamos.
E o coração turva-se se recorda.
e rasga-se ao rasgar o que o fere
e fica só um vão, um denso vão
afundado em nosso ser, um fundo muro
que tanto nos defende como encerra,
mas em nada diferente da vida.
Abelardo Linares, trad. Joaquim Manuel Magalhães
Publicado em 9 de Abril de 2012