A raiva passada a escrito
A raiva. Vou-vos contar desta raiva que sinto. Do seu sabor.
A raiva passada a escrito tem mais sabor. O sabor do alecrim que não provei ou de uma túlipa andina que escapa. Da escarpa que hei-de subir e que eu sei que está lá, incrédula, quase trocista.
A lamentável depreciação das coisas novas um dia e hoje velhas. A raiva.
A raiva passada a escrito apresenta-se bem, com uma dignidade imparável – a placidez de um ancião bem vivido quase se lhe equipara em garbo e compostura.
A raiva. Passada a escrito quase parece recato. Ou fonte.
Portanto, se fores à raiva, guarda-me um bilhete. Uma chávena.
Rui A.
Publicado em 16 de Maio de 2012