Amanhã falamos, ou depois
Quando os barcos partirem, quando os barcos partirem para o sem fim,
Uns ficarão por cá, e outros certamente não – segundo muitos dizem, é sempre assim.
E se bem que partam barcos por esses mares, se bem que partam velas
Rios ficarão quietos de quietos, à espera, como xailes esquecidos na ombreira da porta.
Inventados melros cantarão mais tarde na concha do rio, quando a saudade romper, e
Desta cidade nascerão alguns assobios, apenas para quem os saiba,
Ainda que até agora ninguém tenha pensado nisso muito a sério.
Dona Dália, Dona Dália, quem poderá saber nesta terra
Onde florescem os cucos e onde voam as rosas?
Nada nos preparou sem enfeites para tal lição de vida,
Ainda que pensemos saber bastante, e não só de meteorologia - imensa cultura.
Dona Dália, sabe bem que quando os barcos partirem, quando os barcos partirem mesmo,
Águas ficarão ainda que parta - com pequenos ramos, para descanso das libelinhas. E
Lá, onde sussurram os ventos de São Tomé, é bom pensar que o sol bate forte.
Imagino que se sentirá agora bem melhor, mesmo esquecido o xaile e outros adereços.
Amanhã falamos, ou depois. Até lá, fica esta porta – com os melros, os cucos, e as rosas.
Rui A
Publicado em 19 de Maio de 2012