Recordem-se, jovens vivos (não falo aos mortos) que é jovem também o tempo para vós. Aqui olham-vos como velhos, os que têm a vossa consciência e também a vossa idade. Um dia, que para estes vossos irmãos é hoje, sabereis também vós que o pior inimigo que vos fere e vos mata é melhor do que os que mandam neste cinzento dia do futuro. Os Fascistas não tocam a alma. Eu sei que no meu país por vinte anos o tentaram: mas rapazes e homens ficaram iguais aos de todos os séculos. Matai-os, metei-os na prisão como fazem eles. São poucos. Secam e tornam a crescer como a grama. O povo era o trigo que não morre. Agora começa a morrer. Alguém lhe tocou a sua alma. Rapazes e homens vivem, selvagens, como num sonho. São como loucos, não conhecem piedade, giram, o rosto branco como renegados por um pouco de riqueza e liberdade que talvez quisessem mas que não ganharam. Deram-lha, não de boa mente, os velhos Antifascistas que são os autênticos Fascistas... que são os líderes, da Aculturação e não só tocam as almas mas também as sugam no Centro como vampiros, deixando os corpos cobertos de sombra e tísica branca, megeras com grandes cabeleiras de merda com mais nenhum outro amor do que o do Motor, porque não? que fazer do Sexo em liberdade? Amadurece nos campos, entre as pedras, o trigo com o silêncio e o canto das cigarras: é ali que nascem os filhos obedientes, os soldados e os heróis como os de entre vós que estão mortos. Pasolini, trad. Manuel Simões