Há dias assim
Nos dias de luta
Nos dias de lata
Nos dias de luto
Nos dias de prata
Nos dias de tinta a escorrer as águas
Nos dias de sangue que se faz lava
Nos dias que lavam suor e escada
Nos dias de cifra
nos mais transparentes
Nos dias nos passos
Nos dias mais quietos
Nos dias que partem
aqueles que ficam
Nos dias de vasos
Nos dias de fitas
Nos dias de Outubro a Setembro
Nos dias nenhuns
Nos dias nas ervas
Nos dias ruins
Nos dias que erguem voltagens
em mil
Nos dias sem margem
Nos dias que acham
Nos dias que são
Nos dias esquecidos
Nos dias refeitos
Nos dias de prémio
Nos dias refugos
Nos dias caminho
Nos dias centrados
Nos dias que não
Nos dias de hábito
e nos dias nus
Nos dias de saldo
Nos dias inteiros
Nos dias mais rotos
Nos dias vestidos
de poucos amigos
Nos dias sem rosto
Nos dias sem espinhas
Nos dias de haver
e nos de chegar
Nos dias sem mote
Nos dias de jogo
Nos dias de vasos
de vasos no mar
Nos dias já feitos
e nos por fazer
Em todos os dias, ou estes ou outros
que não sei contar
há traços comuns pedaços iguais
por exemplo um comprimido a acordar
e outro ao deitar
E isso levanta toda uma série de questões
Nomeadamente à volta da medicina e dos seus resultados
Mas poderá não ser dia para essas pachorras
Espero que um pardal me venha à mão
e não por falta de saúde
e por isso me calo, para que aconteça
E é claro que não sei
Rui A.
Publicado em 14 de Junho de 2012