Por vezes
Por vezes não temos tempo
Por vezes não chegamos a tempo
Por vezes é tarde por vezes é cedo
Por vezes não devíamos ter ido
Por vezes perdemo-nos a avaliar o sucedido
Por vezes morremos na praia
Por vezes sem lá ter ido
Por vezes somos pouco recomendável companhia
Por vezes pouco simpática ausência e não só de nós próprios
Por vezes fazemos as vezes fazemos de conta
Por vezes vamos às sortes e ficamos partindo
Por vezes partidos por vezes mais inteiros
Por vezes a lágrima acontece por vezes não
Por vezes limpando o dia por vezes deslavando o chão
Por vezes um riso é manso por vezes estúpido
Por vezes um sorriso é menos inteligente que tudo isso
Por vezes vale mais que aqueles segundos todos antes
Por vezes reflete o mundo e não é mau
Por vezes agradecemos o que não sabemos
Por vezes procuramos saber o que esquecemos
Por vezes vale mais um berro que um beijo
Por vezes vale mais um beijo que muito dinheiro
Por vezes esquecemos a estátua
Por vezes aquecemos a luz
Por vezes valemos menos que a sombra que nos sai do ombro
Por vezes descansamos na orla de uma almofada
Por vezes dançamos no patamar do silêncio
Por vezes somos nós por vezes os outros
Por vezes simpáticos burros
Por vezes intragáveis sabedores
Por vezes levantamo-nos deitados
Por vezes sozinhos por vezes sem sonho
Por vezes com sono e às vezes cansados
Por vezes lutamos e há vezes que não
Por vezes somos delicados
Por vezes somos o que somos em público e
Por vezes isso até não é mau
Por vezes chega ser bom
Por vezes somos carne por vezes canhão
Por vezes somos mais que às vezes
Por vezes somos mais que apenas por vezes
Por vezes é mesmo por vezes vai ser sempre
Por vezes Menezes por vezes Correias
Por vezes audazes por vezes rapazes
Por vezes cobardes por vezes canalha
Por vezes sem significado que o valha
Por vezes sem ninguém que acuda
Por vezes sem batalha e sem fuga
Por vezes sem talho e sem foice aparecemos
Por vezes mais ou menos
Por vezes como se nada connosco fosse e por vezes não sendo
Por vezes às vezes por vezes às vozes
Por vezes são vezes martelando as teclas
Por vezes concerto por vezes piano
Por vezes meditando a folha em branco
Por vezes respeitando o branco da folha
Por vezes não calamos por vezes que chatos somos por não nos calarmos
Por vezes calamos e ainda é mais desagradável
Por vezes não ouvem por vezes ninguém tem culpa
Por vezes tudo na palma da mão
Por vezes não
Por vezes um quarto de criança por vezes o asilo de um velho
Por vezes no meio dias valiosos
Por vezes trigo por vezes centeio
Por vezes alcatra por vezes menos que o rabo de um boi
Por vezes anjos ateus por vezes divinos humanos
Por vezes acreditamos no que não vemos
Por vezes provamos o que não temos e o que não somos
Por vezes aceitamos por vezes dizemos sim
Por vezes ficamos contentes
Por vezes é tudo e o seu contrário
Por vezes não é possível
Por vezes quem dera que fosse
Por vezes sabemos o que dizemos e porque dizemos
Por vezes não há ordem nas frases
Por vezes não deve haver ordem nas frases
Por vezes mais vale cabermos
Por vezes oxalá que não
Por vezes é preciso saber andar
Por vezes é preciso ser preciso
Por vezes era melhor ser conciso
Por vezes não
Rui A.
Publicado em 4 de Junho de 2012