Sou planta em terra lavrada, raízes em chão dormente Sou planta inacabada, botão ainda em semente Sou rocha em terra entristecida e água em frente fria Sobrevivo onde não há nada Nem pudor Nem justos decretos Nem alegria. Vivo na memória das coisas E dos afectos. Naquele lado, onde os ditos resistentes Os supostos justos, (e quase nunca o são) se degladiam Morro um pouco, lá, de vez em quando E renasço sempre deste lado Ao fim do dia. E é nessa altura que contemplo O vulgo, a urbe e as ilustres sapiências Desgraças, enredos e desenlaces A céu aberto, como se fora Hora De querer, tanto tanto Tornar à vida e ao azul da alma. É o desejar ficar aqui e estar em mim Que me faz cantar em pleno vento As coisas desditas, invisíveis e inalcançadas. Talvez Precise de estar mais ali ao lado Para ser eu, sempre, aqui mesmo. V.G.