Identidade
Sou planta em terra lavrada, raízes em chão dormente
Sou planta inacabada, botão ainda em semente
Sou rocha em terra entristecida e água em frente fria
Sobrevivo onde não há nada
Nem pudor
Nem justos decretos
Nem alegria.
Vivo na memória das coisas
E dos afectos.
Naquele lado, onde os ditos resistentes
Os supostos justos,
(e quase nunca o são) se degladiam
Morro um pouco, lá, de vez em quando
E renasço sempre deste lado
Ao fim do dia.
E é nessa altura que contemplo
O vulgo, a urbe e as ilustres sapiências
Desgraças, enredos e desenlaces
A céu aberto, como se fora Hora
De querer, tanto tanto
Tornar à vida e ao azul da alma.
É o desejar ficar aqui e estar em mim
Que me faz cantar em pleno vento
As coisas desditas, invisíveis e inalcançadas.
Talvez
Precise de estar mais ali ao lado
Para ser eu, sempre, aqui mesmo.
V.G.
Publicado em 22 de Julho de 2012