Abro a minha boca e o mar se regozija E leva as minhas palavras a suas escuras grutas E às suas focas pequenas as murmura Nas noites em que choram os tormentos do homem. Abro as minhas veias e enrubram-se os meus sonhos Transformam-se em arcos para os bairros dos meninos E em lençóis para as raparigas que velam Para ouvir às ocultas os prodígios do amor. Aturde-me a madressilva e desço ao meu jardim E enterro os cadáveres dos meus mortos secretos E às estrelas traídas que eram suas Corto o cordão dourado pra caírem no abismo O ferro enferruja e eu castigo o seu século Eu que já experimentei a dor de mil pontas Com violetas e narcisos a nova Faca vou preparar que convém aos Heróis. Desnudo o meu peito e os ventos se desatam E vão varrer as ruínas e as almas destruídas Das espessas nuvens limpam a terra Pra que surjam à luz os Prados encantados. Odysséas Elytis, trad. Manuel Resende