De Tudo Fica Um Pouco
de tudo fica um pouco
às vezes mesmo fico eu
e já lá vai o tempo
em que ficava
à espera de um café quente
à espera de uma cara
ou de um café universal
de tudo fica um pouco
às vezes mesmo fico mouco
com o grito do meu canto
com a história do meu pranto
na glóriadum pardal
de tudo fica um pouco
às vezes mesmo fico eu
mesmo às vezes
quando não canto
por esse papel branco
que se chama o meu quintal
de tudo fica um pouco
às vezes mesmo fico eu.
sou os gritos do meu pranto
onde o mistério é todo meu!
de tudo fica um pouco
de tudo fica um pouco
até do silêncio do canto
onde o mistério se escondeu
até dos meus anos ocos
entre mil versos poucos
onde o mistério sou eu.
de tudo fica um pouco
de tudo fico eu
até dos meus sapatos routos
entre dois versos loucos
o meu corpo e o que é o outro
e o que adiante será morto.
de tudo fica um pouco
de tudo fica um pouco
até de dois filhos soltos
roubados ao mistério
que é só meu e que sou eu
de tudo fica um pouco
às vezes mesmo fica tanto
de um casamento solto
(um surdo e outro mouco)
entre dez anos loucos,
no dia do funeral
de Deus e do meu porco!
de tudo fica um pouco
de tudo fico eu
deste poema fica sobretudo
o que eu não canto
porque o mistério
é todo meu!
Maria Azenha
Publicado em 7 de Agosto de 2012