Esquecimento
O nome do autor é o primeiro a partir
seguido passivamente pelo título, a trama,
a conclusão de partir o coração, todo o romance
que de repente torna-se algo que você nunca leu,
nem dele ouviu falar,
como se, uma a uma, as memórias que costumava aportar
decidissem retirar-se para o hemisfério sul do cérebro,
para uma pequena vila de pescadores sem telefones.
Há muito tempo você deu adeus aos nomes das nove Musas
e assistiu à equação do segundo grau fazer as malas,
e mesmo agora enquanto memoriza a ordem dos planetas,
alguma outra coisa está sumindo, um emblema floral
talvez, o endereço de um tio, a capital do Paraguai.
O que quer que você esteja lutando para lembrar-se
não está equilibrado à ponta de sua língua,
nem mesmo a espreitar de um beco escuro em seu baço.
Foi correnteza abaixo de um rio mitológico e escuro
cujo nome começa com um L se você se lembra bem,
você, a caminho de seu próprio esquecimento onde se unirá
àqueles que esqueceram como nadar ou andar de bicicleta.
Não é de admirar que você se levante no meio da noite
para conferir a data duma batalha num livro de guerras.
Não é de admirar que a lua à janela pareça ter vagado
para fora de um poema de amor que você sabia de cor.
Billy Collins, trad. Ricardo Domeneck
Publicado em 27 de Agosto de 2012