O porto
Nós contamos a eles os mitos de outros
Sentados ao redor da velha, imponente nau
E à mesa da nau, que fora despachada
Dalgum porto distante.
O despenseiro chegou em busca das cartas
À espera de notícias de um porto próximo
Mas, como o vinho que bebêramos cedo demais,
Nossos corações estavam com a nau
Onde afinal nossa mesa fora posta.
Parte de nossa atenção concentrava-se
Na tempestade a flagelar-nos como se a chuva
Pudesse sobrepujar a presença de outros
E da velha devoção no discurso do capitão.
O capitão preferia antigos modelos de exórdio
Àqueles que eram curtos
E interceptara a carta do despenseiro
Durante o seu próprio discurso inicial,
Abreviado com loas à companhia dona da nau.
Ele acusou-nos de sermos velhos e alcoólatras
E de deixarmos bigodes que se enroscavam
No sal do mar em que navegávamos
Se ao menos pudéssemos deixar o porto.
Bernadette Mayer, trad. Ricardo Domeneck
Publicado em 21 de Agosto de 2012