Eu quero partir com os loucos o pão, migalhas diárias do desespero grande, também o sino em meio ao peito, ali onde o pombo aninha-se e tem seu refúgio minúsculo no ermo sobre as águas. Residi por anos como pedra no chão das coisas. Eu ouvi, porém, o sino sussurrar teu segredo nos peixes com asas. Hei-de aprender a voar e nadar, deixar o pedregoso sob as pedras, aconchegar em madrepérola a melancolia, elevar aflição, ira. Minhas asas são mais velhas que tua paciência, minhas asas vão à frente da coragem que tomou sobre os ombros o louco. Eu quero partir com os loucos o pão, ali no ermo assustador do pombo, onde o sino triparte o maior desespero ao som tríplice do teu nome. Christine Lavant, trad. Ricardo Domeneck