Vivo com certas palavras, abelhas domésticas; ou com qualquer palavra, como a palavra qualquer que, agora, irrompe e se impõe ao desaviso, como se houvesse em mim a força e o propósito de palmilhar vagamente uma estrada de Minas, solene e à espreita de um desencanto grave; E como se eu vivesse ao correr da pena, em leva e trás sem trégua, ao peso de mim mesmo, sujeito ao escárnio, por exibir solene, o dom da analogiae a música adequada, em certos instantes que invento. Porém, quisera-me inventor de um descrever feroz, à margem ou ao centro: uma construção esperta, sem a falsa elegância ou a sedução barata, que são meus vícios brutos, sem alma e sem remédio; e que rondam renitentes, agorinha, neste instante. Abriria os olhos, incuriosos, lassos, para a máquina, o discurso (e por que não a vida?) construídos com o engenho e a arte dos milagres. E ficaria só, contente, no meu íntimo, a remoer o sentimento apagado e o traço tosco da poesia. José Almino