Estranhas são as vias do Amor
Estranhas são as vias do Amor:
e bem o sabe quem as quer seguir:
muitas vezes ele perturba o coração seguro:
quem ama não encontra constância.
Aquele a quem a Caridade
toca no fundo da alma
conhecerá muita hora de desolação.
Ora ardendo, ora frio,
agora tímido e ainda há pouco ousado,
numerosos são os caprichos do Amor.
Mas a toda a hora ele nos lembra
a nossa imensa dívida
para com o seu alto poder,
que nos atrai e só a Ele nos destina.
Ora gracioso, ora terrível,
agora próximo e ainda há pouco distante:
para quem o conhece e nele confia
isto mesmo é alegria maior.
Como Amor
num só acto
fere e abraça!
Ora humilhado, ora exaltado,
agora escondido, manifesto ainda há pouco,
para se ser um dia atingido pela dilecção
é preciso arriscar muita aventura –
antes de alcançar
aquele ponto em que se desfruta
da pura essência do Amor.
Ora leve, ora pesado,
sombrio agora e claro ainda há pouco,
na doce paz, na sufocante angústia,
dando e recebendo –
dupla vida,
serve aos espíritos
que se perdem no amor.
Hadewijch de Antuérpia, trad. João Barrento
Publicado em 14 de Outubro de 2012