Escrevo cada palavra como se fosse um oráculo uma profecia para o Livro dos Mortos ou para um capítulo da Bíblia que não fale de assassinatos e idolatria de alguma forma o Labirinto também é um livro cuja entrada é a mesma saída e decifrar seu segredo é ficar vivendo ali como se se tratasse do corpo do amado antes de matá-lo com o fio de um olhar e não se arrepender Ler Homero agora por exemplo é assistir a um filme que nunca se acaba cidades que viraram pó e cinzas amores e suas copulações criminosas medo e dor pois todo mito é um lugar comum hoje em dia e os lugares comuns são uma maneira de falar sobre a morte sem mencioná-la por isso todo cemitério é um livro e um labirinto assim como também o oceano o céu e o corpo bonito do amigo antes da traição que é apaixonar-se pois então já não há nada mais que a vontade de morrer juntos como se este adversário transitório não fosse mais que você mesmo Beberei o dia todo e ao cair a noite sairei para trocar os poemas escritos por garrafas de cerveja que também ficarão inéditas porque não me lembrarei delas vão esfumaçar-se como uma miragem em um banheiro úmido e sujo onde um garoto piscará um olho para você e nunca vai querer saber seu nome mais tarde veremos pela última vez as estrelas e será necessário seguir esquecendo Os poemas desejam o corpo de sua arte precisam desta vida que se escapa gole a gole noite a noite incontáveis e mais além destes instantes que não voltarão apresente-se o fim como uma lembrança para depois do meu tempo este poema Héctor Hernández Montecinos, trad. Ricardo Domeneck